quarta-feira, 13 de maio de 2009

INTERAGINDO

TRJ
Intervenção urbana*


Por que intervir na cidade? – Interferências refletem rupturas do cotidiano urbano e com os espaços “cinzas” que o concreto proporciona. Tudo isso provocado pela busca de uma nova situação, pela supressão dos padrões de medidas e da introdução de estruturas descontínuas e relações sem hierarquia. Enfim, liberdade. Nós pegamos o vazio e tentamos colori-lo. Todos aqueles espaços mortos, que geralmente passam despercebidos, começam a ser ressuscitados.

Tudo que acontece no meio urbano é uma intervenção. Desde o cara que vende bombons até aquele outdoor que vende refrigerante. O que diferencia o nosso trabalho dos demais é o caráter sumariamente estético conceitual, o resgate da vida e da humanidade.

Provocar tensões entre as diversas operações urbanas (respeitando evidentemente a unicidade e a dinâmica de cada uma delas), amplificar seu significado e impacto urbano, cultural e social, intensificando a percepção (crítica inclusive), por parte do cidadão comum, destes processos, é a intenção da intervenção urbana.

Quando um artista, conscientemente, altera o meio urbano, ele constrói o novo. A partir daí, aos olhos da população que desconhece a existência do artista, a obra parece ter parado ali por acaso.
Intervenções urbanas não podem se restringir às situações circunscritas e controladas, como as que caracterizam as exposições e os movimentos. Elas devem tratar com circunstâncias que escapam por completo ao seu domínio, com variáveis incalculáveis e escalas muito maiores do que as abarcadas pelas ações previstas. Lidam com sistemas e movimentos infinitamente mais amplos e complexos. Intervenções que visam, a partir de ações tensionadoras e articuladoras, reorientar tendências, redirecionar fluxos e dinâmicas urbanas, informa o publicitário Marcelo Podestá. Não é preciso legenda, a base é a subjetividade, quebra de rotinas, até mesmo da rotina de pensamento. A pessoa que passa na rua e vê uma intervenção, fica pensando naquilo por minutos, horas e até mesmo dias. Um novo movimento? Eu não acho, é só um barulho que tem sua ressonância evidenciada na atenção do pedestre, fala Marcelo Lustosa.

Conceito - O trabalho do interventor, apesar de ser evidenciado na cor, ultrapassa a imagem e chega a ser, para muitos de seus adeptos, um novo conceito estético. Para estes jovens, hoje toda experiência urbana implica ruptura, distância. Tentativa de articulação de um espaço fragmentado, através das intransponíveis barreiras entre suas partes. Intervalos que se produzem no interior da própria cidade.

Marcelo Podestá, que também aderiu ao barulho da intervenção, fala sobre união danosa entre publicidade e arte:
A arte usada pela propaganda possui um fim no dinheiro. Isto pode ser até bom, mas quando se escandaliza transforma tudo em logomarca. É uma mudança de valores, entende? Nós queremos ter como fim, não o dinheiro, mas a transformação.
Imagine quantos cartazes e comerciais, você é obrigado a ver todos os dias? Com o passar do tempo você vai se acostumando, e a propaganda vai aumentando para poder ser mais efetiva. Acho que vai chegar um dia que eles vão ter que pôr outdoors no céu.
Um canto de parede, um orelhão, uma placa esquecida ou um vão qualquer são nossos espaços. Tamanho não é documento e quanto mais inacessível estiver à obra, mais estranhamento ela vai gerar, avisa Marcelo Lustosa.

Técnicas – As técnicas usadas pelos interventores são muitas, desde o artesanato até o uso de adesivos. No Brasil as mais utilizadas são os Grafittes, o stencil e o lambe-lambe (cartaz).
Utilizamos em suas intervenções a técnica do stencil. Ela é muito simples. Você faz a forma do desenho em chapas de raios-x, ou moldes rígidos, dispõe a chapa na superfície e vasa os espaços com tintas.

Sociedade – Em relação às posições que a sociedade toma em face às intervenções: Muita gente aprova, e tem uma outra parcela que condena.
Responsabilidade – Causar hiatos na narrativa urbana, interrupções no seu contínuo histórico não é vandalismo. Assim como propaganda disfarçada de arte não é arte. O que nós buscamos são os espaços intermediários, os mais passivos, as zonas mortas. Aconselha Marcelo Podestá.

Queremos provocar rearticulações no desenho da cidade, pela conexão de elementos afastados, e não pela destruição dos já consolidados, informa Marcelo Lustosa.

Contribuições Textuais:
José Linhares Jr.
Marcelo Lustosa
Marcelo Podestá

*Este artigo foi escrito por Josias Silveira da Silva, integrante do Grupo TRJ.

Um comentário:

CarmenC. disse...

A possibilidade do encontro com a intervenção - e com a própria cidade - é o mais interessante. Já estou procurando por elas!!